Quais as suas relações com a História em Quadrinhos no Ocidente, e o Cinema?
"Arte Sequencial " é um fenômeno Universal - em todas as partes, a Humanidade tentou de alguma forma, exprimir não somente o movimento de uma cena através de desenhos isolados, mas em conjunto - na verdade, esse é o fundamento da Língua escrita - onde, inicialmente imagens em sequencia definiam o teor da mensagem a ser transmitida; mais tarde, essas imagens forma codificadas em sons, e, ainda mais tarde, em letras que, se combinando de maneiras as mais diferentes, expressavam sons, logo, palavras - e as idéias relacionadas às mesmas.
A "Arte sequencial "( um termo cunhado por Will Eisner )pode definir o que entendemos quer como Quadrinhos, Cartum, Mangá - e a relação destes Gêneros com outras formas de Arte, notadamente o Cinema( assim como o Teatro, para o Mangá em seu início ), tão cênicas ou descritivas, e que têm por fim "contar uma estória" de uma maneira gráfica ou cênica( com movimento, ou não )!
Enquanto o que atualmente entendemos por "Quadrinhos" no Ocidente começou com o trabalho de Richard Fenton Outcault com o seu personagem "Yellow kid", em 1895 - onde pela primeira vez um personagem era:
- Apresentado serialmente, com estórias em sequência, ou interligadas;
- Apresentado graficamente, em uma mídia impressa de grande circulação;
- Havia o uso de grafemas( aquelas linhas e símbolos que expressam emoções dos personagens e o movimento às cenas )
- Havia o uso de balões.
Basicamente, as ditas "histórias em quadrinhos" anteriores tinham alguns desses elementos, embora não todos estivessem presentes!
Em 1895, também, foi exibido o primeiro filme dos Irmãos Lumière - e, tal como os quadrinhos, de cunho popular, a Arte do Cinema que daí surgiu, também teve que enfrentar o preconceito a respeito de "não ser intelectualizada o bastante" - logo, não seria "Arte" simplesmente por ser de cunho e gosto populares, e dedicada ao entretenimento( embora, mais tarde, tanto Quadrinhos como Cinema também abordem assuntos e tópicos mais sérios ).
Desde então, ambas as Artes têm se influenciado uma à outra, quer em termos de Linguagem, Abordagem ou Temas, já que ambas têm de fato muito em comum!
No Japão, muito antes do Cinema e bem antes da popularização das mídias impressas tal como no Ocidente com todos os seus jornais e revistas populares, de baixo custo e acessíveis ao povo em geral, já havia uma certa simbiose entre artistas gráficos e o teatro de bonecos( Bunraku ) e o teatro de atores ( Kabuki ),onde os primeiros eram responsáveis por produzir o material gráfico necessário para a divulgação dos espetáculos; tal coisa não era comum no Ocidente desde a mesma época em que essa "simbiose" ocorria no Japão( desde meados do século XVIII )!
Haviam dois Gêneros de espetáculos teatrais:
- Jidai mono: de conteúdo histórico, com histórias sobre heróis, espadachins, de caráter ÉPICO.
- Sewa mono: de conteúdo intimista, com históas sobre a vida das pessoas comuns, dramas familiares, etc, com um caráter DOMÉSTICO.
Ambos os Gêneros eram dedicados ao entretenimento das pessoas
... Não soa estranhamente familiar que haja, hoje em dia, Gêneros como o Shonen ou Shojo Mangá( s ),onde há as suas diferentes abordagens, para os diferentes públicos?
Na virada do século XVIII para o XIX, no Japão, então completamente isolado da Cultura Ocidental o artista Gráfico Hokusai Katsushika ( 1760/1849 ) cunha o termo "Mangá" ( 漫画 ), que significa "Desenhos espontâneos", ilustrações "com o fim de entretenimento" - o que, de certa forma, relaciona o Mangá à direção que os Quadrinhos, no Ocidente iriam tomar, e embebendo-se da influência mútua com o Cinema - tal como descrevi acima!
Seu trabalho como artista gráfico era produzir cartazes, folhetos, e material de divulgaçaõ para os espetáculos de teatro( buraku ou kabuki ), embora Hokusai também houvesse trabalhado como artista gráfico de cunho original, produzindo álbuns de desenhos impressos sobre temas diversos.
Contudo,
O seu trabalho não era "quadrinhos" tal como conhecemos "mangá" hoje em dia: Hokusai era, essencialmente, um ilustrador, embora já se dedicasse à uma abordagem dinâmica e de cunho popular; de fato, já haviam "revistas" ilustradas( na verdade, eram como se fossem versões em narrativa escrita dos espetáculos em voga na época, embora bastante ilustradas - como as ilustrações eram sequenciadas, as bases para uma "história em quadrinhos" foram daí lançadas )!
( "A Grande Onda em Kanagawa", por Hokusai = "Kanagawa Oki Nami Ura",
do álbum "As 36 vistas do Monte Fuji"( publicadas entre 1826 e 1833 ).
Eu citei esta ilustração acima em aula - como vocês pareciam não ter conhecimento dela, estou a acrescentando aqui - em todo o caso, visitem os links que estão no texto... se houver o problema com os textos de referência( na Wikipédia )estarem em Inglês, ainda assim voc~es podes usar as ferramentas de tradução( eu mesmo já colaborei com textos originais ou traduzidos, por lá )!
Bom proveito!
...
Com a abertura do Japão ao contato com o Ocidente, bem mais tarde, os artistas gráficos Japoneses tomaram conhecimento das maneiras que nós( notadamente, autores Franceses )editavam os seus trabalhos: em capítulos, em revistas de grande circulação, onde os capítulos eram mais tarde reunidos em volumes separadaos para cada obra( por sinal, o mesmo sistema foi aplicado no Brasil - cuja influência cultural, tal como no século XIX era majoritariamente vinda da França, influenciando autores tais como José de Alencar ou Machado de Assis, que publicavam suas obras no formato de "folhetim", dentro de revistas, antes de poderem ter as mesmas publicadas definitivamente em sua forma de livros! ); de fato, até há relativamente pouco tempo isso era mais comum - por exemplo as estórias da série "Astérix" eram originalmente publicadas( meia, ou uma págian por vez )na revista semanal "Pilote" ao longo de um ano inteiro - quando, mais tarde, à época do Natal, as estórias eram recompiladas em álbuns, "edições de luxo"( embora não excessivamente caras - na verdade, edições bem acabadas, em papel de melhor qualidade, com capas duras )eram destinadas aos colecionadores ou para serem dadas como presentes!
Novamente,
Uma coisa que permaneceu: os mangás, ainda hoje em dia são publicados em "folhetins"( capítulos seriados, publicados com muitos outros em revistas ), editadas em papel jornal - para, se tiverem sucesso, serem recompiladas em "tanko bon", impressos em um papel melhor, também destinadas aos colecionadores desta ou daquela determinada série que ali está reeditada!
Mas, revistas, revistas de mangá( tal como histórias em quadrinhos )são um fenômeno posterior, que surgiu por volda dos anos 1920/24,onde se aplicaram esses princípios editoriais acima - tanto por ter por fim baratear os custos( assim como experimentar novos autores ), como consolidar o público!
Há relativamente poucos títulos sendo publicados no entre-guerras, embora a divisão entre "shonen" e "shojo" amngás já se consolide, com revistas especializadas para, quer o público masculino ou femininio - e, embora o núme ro de títulos e sua tiragem ficassem ainda mais reduzidos( censura, falta de papel )durante o período da Segunda Guerra Mundial, os mangá contiunuaram a ser publicados!
( A guerra durou de 1941/45 para o Japão, embora as hostilidades com a Inglaterra já houvessem começado desde 1940 ); com a derrota do Japão na segunda guerra - embora, tal como disse em aula, mesmo a Inglaterra - do lado "vencedor" - só começou as se recuperar do prejuízo QUINZE ANOS após o fim das hostilidades )
As pessoas queriam um meio barato e interessante, envolvente de poderme se distrair; daí, surgiu o fenômeno das bibliotecas ambulantes, onde mangás poderiam ser alugados a baixíssimo custo!
( Tal como ocorre hoje em dia com as locadoras de vídeo - embora tu precises de um aparelho de DVD para poder assistir, é claro, logo não é tão "barato" assim... mas tu podes entender o que quero dizer )
No início dos anos 1950, surge Tezuka Osamu ( que era médico formado, mas escolheu não exercer a profissão )viu essa brecha de trabalho e formou uma equipe de artistas afim de suprir às necessidades dessas pequenas editoras, produzindo materiais de aventura, fantasia, ficção científica, mitologia, etc etc, tudo em mangá!
A estrutura da equipe de trabalho, para o mangá, difere da estrutura ocidental:
- Enquanto no Ocidente há a divisaõ de trabalho entre autor/roteirista >>> desenhista >>> arte-finalista, com eventuais "assitentes de arte"( uma equipe de três a cinco pessoas )afim de agilizar os trabalhos, no Japão há o autor, mais desenhistas especializados em personagens ou cenários, passando pela maquinaria( ou, em Japonês: "mecha" ), e assitentes de arte para cada um desses setores de uma mesma história!
Isso permite que os produtos finais sejam de um número maio de páginas, saindo muito mais frequentemente que no Ocidente, embora exija um trabalho de coordenação constante!
Dentre esses novos autores, muitos que outrora começaram como assitentes nesta ou aquela área, mais tarde se destacaram em carreiras, quer produzindo para públicos tão diversos( embora Tezuka, mesmo, produzisse para AMBOS os públicos )quanto os do "Shonen" ou "Shojo" Mangás - autores tais como Matsumoto Reiji ou Ikeda Riyoko , que, por sua vez, começaram como assitentes de outros artistas, quando iniciantes.
Basicamente, era uma equipe( liderada por um dos artistas )que entrava em contato e era contratada pelos editores afim de produzir um certo tipo de material
Evenetualmnente, como sistema paralelo,
Durante os anos 1960/70, e até meados dos anos 1980 era relativamente comum as Editoras lançarem "concursos" à cata de novos talentos; contudo, provevelmente Takahashi Rumiko ( em 1978, com "Urusei Yatsura"m sendo publicado pela revista "Shonen Sunday" )foi a última artista a ter uma carreria consolidade ter começado desta maneira - pois, com o crescente acúmulo de material, e a impossibilidade logística de se poder avaliar todos a tempo, assim como a aparição de "agentes intermediários"( e uma concorrência entre eles que necessariamente não era do interesse dos Editores no Japão )inviabilizou esse sistema; de fato, com tiragens maiores, as editoras não se poderiam dar ao luxo de "encalharem" as suas edições devido a material que eventualmente não fosse do interesse do seu público consumidor, logo uma nova tática afim de captar novos talentos deveria ser aperfeiçoada.
...
E surgiu a busca de novos talentos no meio dos fanzines( "dojinshi" em Japonês ); publicações independentes, onde os fãs produziam estórias alternativas sobre as suas séries e personagens favoritos, e, onde, curiosamente, algusn autores vieram a se consolidar, embora como autores "fanzineiros", tendo inclusive, fãs de seu trabalho alternativo!
No Japão, há convenções especialmente dedicadas aos fanzines, onde, eventualmente, novos autores podem expor os seus trabalhos( mesmo como fanzines )ou, eventualmente, entrar em contato profissional com os mesmos editores daqueles trabalhos aos quais está sendo feito tal "trabalho de fã" - o que importa e é avaliado é a capacidade profissional e engajamento do artista...
... E isso é um dos temas para as nossas próximas aulas!
Um bom fim de semana para vocês!
Nos vemos na próxima terça-feira!
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